Médico tira dúvidas mais comuns sobre a vacina contra HPV

Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que mais de 200 milhões de mulheres são infectadas por ano no mundo 

O vírus do papiloma (HPV) pode ser responsável por vários problemas de saúde, desde verrugas que acometem crianças até o aparecimento de papilomas nas cordas vocais, que causam um quadro de rouquidão progressiva. Especialistas alertam que existe o perigo de contaminação pelo simples contato com roupas infectadas, daí a recomendação para evitar compartilhar roupas íntimas e toalhas.

vacina hpv

Porém, o HPV é é transmitido predominantemente por via sexual, por isso as doenças genitais são as mais importantes provocada por ele.

O HPV pode infectar homens e mulheres. Em razão das características anatômicas dos órgãos sexuais masculinos as lesões são mais facilmente reconhecíveis. Já nas mulheres, essas lesões podem espalhar-se por todo o trato genital e alcançar o colo do útero, pois, na maior parte dos casos, só são diagnosticáveis nos exames especializados, como o Papanicolau.

Pode ocorrer de a pessoa infectar-se e nunca desenvolver qualquer patologia, pois o corpo pode eliminar o vírus espontaneamente.

Em situações um pouco mais sérias, especialmente nas mulheres, o HPV pode provocar uma alteração discreta, perceptível apenas no exame de Papanicolaou, um teste de rotina para controle ginecológico. Se as alterações forem mais graves, as células atingidas pelo vírus começam a ficar bizarras indicando que não se trata de uma infecção simples. Alguns desses casos, felizmente muito poucos, acabam evoluindo para um comportamento mais agressivo. As células perdem os controles naturais sobre o processo de multiplicação, invadem os tecidos vizinhos, formando um tumor maligno: o câncer do colo do útero.

Muitas mulheres, quando recebem o diagnóstico de papilomavírus, ficam assustadíssimas, imaginando que vão ter esse tipo de câncer, o que não é verdade. Apenas um pequeno grupo corre o risco de desenvolver essa doença.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) relatam que, por ano, mais de 200 milhões de mulheres no mundo são infectadas. Deste total, 685 mil são contaminadas por algum dos 13 tipos de vírus mais frequentemente associados ao câncer, sendo que 32% estão infectadas pelos tipos 16 e 18, os quais são responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo de útero.

Dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer) mostram que, sem considerar o câncer de pele não-melanoma, o de colo do útero é o mais incidente na Região Norte (24 por 100 mil mulheres). No Centro-Oeste (28 por 100 mil) e no Nordeste (18 por 100 mil), ocupa a segunda posição. No Sudeste (15 por 100 mil), o terceiro lugar, e no Sul (14 por 100 mil), o quarto. Enquanto o Amazonas tinha, em 2008, uma taxa de mortalidade de 16,7 casos por 100 mil mulheres, São Paulo registrava 3,13.

Neste ano, o SUS (Sistema Único de Saúde) começou a oferecer vacinação contra o vírus para meninas entre 11 e 13 anos. O projeto de prevenção da doença suscita muitas controvérsias e dúvidas por pais, médicos e outros especialistas.

De acordo com o ginecologista Renato de Oliveira, responsável pela reprodução humana da Criogênesis (clínica de serviços de coleta e criopreservação de células-tronco, medicina reprodutiva, gel de plaquetas e aférese), a vacina tem eficácia comprovada, embora não elimine as outras ações de prevenção, como a realização do exame Papanicolau e o uso de preservativo nas relações sexuais.

A entrevista a seguir com o ginecologista Renato de Oliveira esclarece as dúvidas sobre a vacina: eficácia, efeitos colaterais e quando tomar.

A vacina é segura?

RO – Sim. A vacina contra o HPV tem eficácia comprovada para proteger mulheres contra os principais tipos de HPV relacionados ao câncer de colo uterino (16 e 18). No caso da oferecida pelo governo às meninas, há a proteção adicional contra os principais tipos de HPV (6 e 11) relacionados com lesões condilomatosas. A vacina apresenta proteção de 98% contra o câncer do colo do útero e funciona melhor quando administrada antes de a pessoa ter qualquer contato com alguns tipos de papilomavírus humano. Deve-se destacar que mesmo os indivíduos que já iniciaram a vida sexual também podem receber a vacina, pois o contato com o vírus não gera resposta imune protetora, ao contrário da aplicação da vacina.

Como a vacina funciona?

RO – O conhecimento sobre o funcionamento da vacina para o HPV está em construção. Porém, de um modo geral, pode-se dizer que a dose estimula a produção de anticorpos, proteínas produzidas pelo organismo para reagir contra um agente agressor. Quando ocorre o contato com o vírus, o organismo o reconhecerá, entrando em combate.

Quais os tipos?

RO – Existem duas vacinas aprovadas e registradas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA): a Bivalente (contra os HPV 16 e 18) e a Quadrivalente (contra os 4 tipos de HPV: 6, 11, 16 e 18). A vacina Quadrivalente, apesar de gratuita apenas para meninas de 11 a 13 anos (e, futuramente, para todas as meninas de 9 a 13 anos), é recomendada para homens e mulheres de 9 a 26 anos. A vacina bivalente pode ser utilizada a partir dos 9 anos. Clínicas particulares também oferecem as vacinas para pessoas de qualquer faixa etária, por considerar que há benefícios para todos os pacientes. Há também a cobertura de outros tipos de HPV com o uso das vacinas por uma ação de similaridade.

Quantas doses devem ser tomadas?

RO – O esquema vacinal é de três doses para completar a proteção. Com a bivalente, a segunda dose é aplicada depois de um mês da primeira e, a terceira, após cinco meses da segunda. Já na quadrivalente, a segunda fase acontece apenas dois meses após a primeira e a terceira, seis meses depois da inicial.

Quais são os efeitos colaterais?

RO – Como acontece com a maioria das vacinas, as reações mais comuns são relacionadas ao local da injeção como dor e vermelhidão, por exemplos. Em geral, esses sintomas são de leve intensidade e desaparecem no período de 24 a 48 horas. Há também a possibilidade de reações alérgicas para alguns pacientes.

Quem pode ser vacinado?

RO – No início, restringia-se às pacientes entre 9 a 26 anos. Entretanto, os meninos passaram a ser vacinados e sabe-se do benefício mesmo em pacientes que já tiveram início da atividade sexual e possuem idade maior que 26 anos.

A mulher vacinada precisa continuar fazendo o exame de prevenção para o câncer do colo uterino?

RO – Certamente sim. Independente da vacinação, deve-se continuar com o exame de prevenção rotineiramente. A recomendação é iniciar o exame de prevenção colpocitológico (papanicolau) após os 25 anos de idade ou 3 anos após o início da atividade sexual.

A vacina protege contra doenças sexualmente transmissíveis?

RO – Não. É importante ressaltar que a vacina protege principalmente contra os tipos de HPV mais frequentemente associados ao câncer e, dependendo da vacina, possui cobertura aos principais tipos de HPV causadores de condilomas acuminados. Porém, não há proteção contra outras doenças que são sexualmente transmitidas e, muito menos, impede a gravidez.

A vacina tem contraindicação?

RO – Sim. A vacina é contraindicada para gestantes e indivíduos com doenças agudas ou com hipersensibilidade aos componentes da vacina.

A vacina pode causar a infertilidade?

RO – Este é um fato que também não foi comprovado. Há relatos de algumas adolescentes da Austrália, Japão e Inglaterra que apresentaram menopausa precoce e até mesmo infertilidade após terem tomado as doses da vacina. No entanto, não há comprovação que ela tenha causado esses problemas, nem que os tenha desencadeado. Muito provavelmente, as jovens já apresentariam esses quadros independente da vacinação.

Além da vacina, é necessário tomar alguns cuidados para evitar a contaminação:

Evitar compartilhar roupas íntimas e toalhas, porque, embora seja raro, o HPV também pode ser transmitido por material e superfícies contaminados;

Fazer periodicamente o exame papanicolau;

Não ter relações sexuais dois dias antes do papanicolau, nem mesmo com camisinha; também devem ser evitados duchas, medicamentos vaginais e anticoncepcionais locais;

Não fazer exames menstruada, pois a presença de sangue pode alterar o resultado;

Sempre usar camisinha, que ajuda a proteger contra o HPV, mas não totalmente, já que o vírus pode se esconder na base do pênis ou em locais não isolados pelo preservativo;

Não fumar, pois o tabagismo eleva o risco de desenvolvimento do câncer de colo do útero.

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