Vivo a vida como ela deve ser vivida: um dia de cada vez e com verdade e autonomia
Muitas experiências nos marcam tão profundamente que forjam nossas personalidades, mas, por mais inusitadas e peculiares que sejam essas experiências, elas estão inseridas no padrão da fase da vida que vivenciamos. Eu diria que vivemos etapas, e cada uma delas nos reserva um aprendizado diferente.
Eu vivo hoje um momento impar – vivo a vida como ela deve ser vivida: um dia de cada vez e com verdade e autonomia.
Vou explicar melhor o que é isso:
Nossa vida intelectual começa a ser formada na primeira infância, quando nosso cérebro passa a ser treinado para aprender e apreender.
Nessa fase somos inseguros, temos medo de gente grande… você se lembra de quando olhava para frente e via o quadril das pessoas? Assustador, não?
Depois disso crescemos. Pelo menos nosso corpo cresce e muda muito. Hormônios desafiam o universo o tempo todo – é a adolescência, nossa fase de deformação e destruição de conceitos e conteúdos recebidos dos nossos pais – pessoas caretas e ridículas que também gostaríamos de destruir. É nessa fase que a vida nos coloca à prova e a provar, e provamos. Arrebentamos tudo e falamos o que não “devemos”. Começamos a apanhar, mas como a musculatura está se fortalecendo, quase não sentimos a dor. Damos de ombros…
Logo depois de todo o estrago feito, a vida nos traz a maturidade, fase insossa que nos coloca rédeas, viseiras e mordaças. Olhamos para um ponto único para não desviar do caminho. Não olhamos do lado para não ver (tentação), não falamos para não prejudicar (omissão), e com o passar do tempo nos acomodamos nessa zona, que só percebemos que é de desconforto com o passar inexorável do tempo – quando a saúde, já em debilitação, nos lembra todos os dias que deveríamos ter ido mais, olhado mais e falado mais, gritado mais.
E assim ficamos ainda durante longo tempo, tentando mudar os rumos da vida vazia e doente. Essa fase pode durar anos anulando-nos e quebrando-nos, fazendo com que olhemos o mundo por debaixo, de onde tudo parece muito maior do que realmente é, a nos oprimir. Por mais que tentemos, não conseguimos falar o que nos incomoda, menos ainda gritar e largar.
E isso na mulher é ainda mais forte, porque o machismo passa por cima de nós como um rolo compressor e não permite a nossa expressão!
Mas eis que chega a idade madura. Não!… ao contrário do que se pensa, ela não tem dia nem horário para bater à nossa porta, ela simplesmente chega, e quando nos damos conta já somos diferentes, somos pessoas com toda a força de espiritualidade, que dispensa todas as conveniências sociais e dita as próprias regras de felicidade e prosperidade.
As preocupações passam a ser selecionadas. Sim, pois já não há mais paciência para o que não importa realmente. Olhamos para todos os lados (ou quase todos), pensamos e repensamos, mudamos a nossa opinião e posicionamentos (não importam os outros), agimos à nossa forma, falamos e expressamos mais.
Carlos Drumont de Andrade define sem rodeios a complexidade e a delícia da maturidade no poema “Idade Madura”:
… Antes de mim outros poetas,
depois de mim outros e outros
estão cantando a morte e a prisão.
Moças fatigadas se entregam, soldados se matam
No centro da cidade vencida.
Resisto e penso
numa terra enfim despojada de plantas inúteis,
num país extraordinariamente, nu e terno,
qualquer coisa de melodioso,
não obstante mudo,
além dos desertos onde passam tropas, dos morros
onde alguém colocou bandeiras com enigmas,
e resolvo embriagar-me.
Já não dirão que estou resignado
e perdi os melhores dias.
Dentro de mim, bem no fundo,
Há reservas colossais de tempo,
Futuro, pós-futuro, pretérito,
Há domingos, regatas, procissões,
Há mitos proletários, condutos subterrâneos,
Janelas em febre, massas da água salgada, meditação e sarcasmo.
É assim… a idade madura é um estado de graça em que me encontro! Olho para todos os lados e mudo de opinião e posicionamento, se for convencida; falo sem medo e grito, se precisar; ando sem receio e corro, se necessário; e sobretudo amo, amo muito.
Por Edna Pinson
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É isso aí, Edna! O importante é se sentir bem consigo mesma – e sempre linda. Beijinhos