Boho: rusticidade com sofisticação – estilo que veio para ficar

 A tendência, que rompe com os padrões da alta costura e do prêt-à-porter, é uma das mais comentadas no universo da moda

O Boho Style, tendência da moda que pode facilmente ser traduzida como espelho de personalidade e irreverência, é uma das mais comentadas no universo fashion, justamente por romper com padrões da alta costura e até mesmo do prêt-à-porter; e ao que tudo indica, veio para ficar.

Sem nenhuma cerimônia, mas com cuidado e sofisticação, os adeptos do estilo misturam estampas étnicas, transparências, rendas e artesanato nas roupas, que devem ser soltas, confortáveis e “descoladas”. Nos acessórios, o metal, o couro e as pedras coloridas dão o toque da rusticidade refinada. Isso tudo, bem combinado com calçados confortáveis, normalmente de fibras naturais.

É uma tendência que não cria nada, mas traz a mescla de peças originais e marcantes como novidade para composição de looks.

Parece hippie? É um pouco. Mas um hippie relido, remodelado e adaptados aos dias atuais, com suas necessidades e gostos. Para falar dessa tendência, o Mulher Real ouviu Jô Souza, especialista em Criação e Styling de Moda pelo Senac de São Paulo e em Fashion Imagem pelo Instituto Marangoni de Paris.

Nessa entrevista, Jô explica onde o Boho nasceu e quais os elementos psicológicos e mudanças de comportamento justificam o surgimento e sustentam a permanência do estilo. Afinal, “todo mundo tem algo boho”, diz a especialista.

Mulher Real: Quando surge o estilo Boho?

Jô Souza: O Estilo “Boho” é junção das palavras: Bohemian + SoHo (bairro descolado de N.Y), sendo uma releitura dos anos 60 e do estilo hippie.

É uma tendência “vintage” ou neohippie, novo chic hippie. Uma tendência que aparece com o estilo de vida e mudanças de hábitos alimentares e de habitação. Todo mundo quer uma casa fora da cidade grande ou dentro da cidade grande encontrar o espaço de felicidade

Mulher Real: E a partir de quando passamos a buscar a felicidade numa “casa no campo”?

Jô Souza: O grande marco foi a queda das torres gêmeas, pois o sujeito  começou  a sentir a necessidade das coisas mais simples. Até  os desfiles  ficaram  mais simples  e a modelagem  também.

E nós estamos na era da intuição. Vale o desafio de não parecer, mas ser. A gente percebe também pelas novas escolas e novas formas de morar e viver.

Mulher Real: Podemos dizer que o boho é o reflexo da busca pela autenticidade engessada pelas grifes?

Jô Souza: Autenticidade seria uma palavra muito forte, mas, digamos uma pluralidade e uma conexão, um mix de vários estilos que se combinam entre si pelas texturas, cores, famílias.

Mulher Real: A análise de que o estilo é um “desleixo planejado” está correta?

Jô Souza: Seria um estilo despretensioso, desligado que carrega uma história do lugar que aquela pessoa passou na sua viagem.

Mulher Real: Podemos relacionar o estilo a uma rebeldia social, uma negação de padrões impostos e um grito de liberdade?

Jô Souza: Acredito que seja mais um resgate a algo mais natural, feminino e uma relação muito próxima da liberdade e espiritualidade. Uma necessidade de qualidade de vida, trabalho e vestir.

Mulher Real: As novas tecnologias interferem nessa mudança de comportamento e consumo?

Jô Souza: Sim, as pessoas querem atenção, pois o espaço redes sociais nos desconectou do olho a olho, do cara a cara. Daí a crescente onda de terapia.

E tudo ficou descartável: o amor, a amizade e o trabalho.  Assim, a tendência Boho tende a aglutinar o nosso querer harmonizar a vida e as coisas do mundo pós humano. A moda está  em crise de criatividade  e não  existe nada mais para inventar. Agora é  se apropriar das formas  existentes.

Mulher Real: Quem representa o estilo na sociedade ou no mundo fashion?

Jô Souza: As pessoas descoladas, viajadas e que não precisam ostentar luxo na aparência, mas que, no fundo, as roupas traduzem seu estilo de viver e custam caro.

Todo mundo tem algo boho, principalmente as européias.

Mulher Real: Quais os principais elementos que identificam o Boho style?

Jô Souza: Nos acessórios são marcantes as pedras, couro e uma rusticidade ao mesmo tempo uma sofisticação. Nas roupas as transparências, rendas, artefatos manuais. Nos calçados confortáveis de fibras naturais.

Mulher Real: Os estilistas já estão capitalizando o boho e criando a próxima coleção com base na tendência?

Jô Souza: Sim, as marcas Farm, Cantão e Toten, por exemplo, traduzem muito bem o estilo da mulher “Boho”. Ela não seduz usando roupas “salsichas”, mas pelo seu estilo de vida e cuidado com o outro e com o planeta.

E acredito ser a tendência para os próximos milênios, a força do consumo consciente e customização de produtos.

Jô Souza é professora de Moda no IED/SP e no Senac e coordenadora de Pós-graduação de Consultoria de Imagem de Estilo e Pós-graduação de Comunicação e Cultura de Moda na Universidade Belas Artes, de São Paulo.

 

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