Mulher Maravilha, Super Homem e Batman receberam de Tamie Gadelha corpos, rostos e expressões de índios brasileiros
Superman, Mulher Maravilha e Batman, que estão fazem parte da infância de tantas gerações no mundo todo são alguns dos personagens de HQs e filmes mais famosos do mundo. Eles se reúnem com Aquaman no filme Liga da Justiça, com estreia no Brasil programada para novembro. Com isso, os fãs já começam a reviver o que cada um dos heróis deixou em sua psique.
Em Manaus, um artista materializou essas informações e deu aos personagens versões indígenas. Essa história foi trazida pelo site mapinguanerd.com.br. A reportagem assinada pelo jornalista Ayrton Oliveira revela que o artista Tamie Gadelha desenhou primeiro a Supergirl de forma diferente, e depois teve a ideia de acrescentar novos traços e fazer uma versão indígena brasileira. Depois os traços foram dados aos demais heróis da liga.
Chama atenção na obra do artista a expressão ainda mais guerreira dada à Mulher Maravilha. Essa expressão retrata com eficiência a luta, braveza e bravura de mulher indígena. A determinação na defesa de seu povo e de seus direitos – que, tão comumente, são violados pelos governos e pelo agronegócio, que lhes tiram a terra e o meio de subsistência – está retratada nos novos traços dados à heroína.
Essa violência acontece nas aldeias espalhadas por todo o Brasil, mas no Mato Grosso do Sul chamou atenção inclusive da ONU (Organização das Nações Unidas) pelo alto grau de desumanidade e selvageria cometida contra os indígenas. Os povos Guaruani Kaiowá são até hoje perseguidos e mortos por latifundiários da região na disputa pela terra, e as investidas contam com o apoio do poder público que é, no mínimo, omisso.
A principal porta-voz do povo é uma mulher, Valdelice Veron. Em busca de socorro, ela leva para todo o Brasil e o mundo a história que seu povo está vivendo: as atrocidades que não poupam idosos, mulheres e crianças.
O www.mulherreal.com conversou com o artista para saber de onde veio a sua inspiração e se a sua proposta tem objetivo de apoiar a causa das nações indígenas, que lutam diariamente para manterem-se vivas, preservando suas raízes culturais, a forma de produção e trabalho e a terra.
Acompanhe a entrevista do artista:
Mulher Real: De onde veio a inspiração para retratar a Mulher Maravilha na pele de uma mulher indígena?
Tamie Gadelha: Quando comecei a fazer essa ilustração da Mulher Maravilha busquei referencias na minha infância quando vi pela primeira vez uma índia. Ela vinha correndo em minha direção. Ela não era alta, mas era bem larga e vermelha, e tinha uma pisada forte. Tamanho foi meu espanto e admiração que fiquei parado enquanto ela vinha em minha direção. Falou alguma coisa pra mim na língua dela que eu não entendi (provavelmente era “saia da frente, pois gesticulou como tal).
Então tentei colocar essa visão que tive na personagem: força física e expressão implacável
É óbvia também a inspiração no grafismo e adornos. Nessa parte fiz algo genérico propositalmente, mas que mantivesse a característica em cima do conceito da personagem original.
Mulher Real: Você vê semelhança na luta da Mulher Maravilha com a da mulher indígena?
Tamie Gadelha: Vejo sim. A personagem original sempre se mostra forte em relação à defender seus ideias, cultura, família e suas terras. Trabalhei há algum tempo fazendo um material gráfico para o documentário “Gleba-Chão de Marias “ da Olha já filmes. Onde os diretores relataram o cotidiano de mulheres, algumas indígenas que perderam suas terras e agora lutam por um pedaço de chão sob as sombras de desapropriação agressiva.
Ter que ser o pilar inabalável enquanto vê seus maridos e filhos mortos, pra mim, é elevar ao posto de Mulher Maravilha, sabe? Aquela que (não) tem nada, mas precisa lutar pela sua vida, pelos filhos doentes, em alguns casos os pais já velhos, seu cantinho e tendo que se submenter à horrores pra sobreviver. Elas sofrem, mas precisam se manter em pé, sem fraquejar por mais forte que seja o golpe
Mulher Real: Você pensa na possibilidade de tratar a questão indígena com a sua arte? Quando repaginou os heróis pensava nisso ou a relação com indígenas foi um acaso?
Tamie Gadelha: A princípio foi um acaso. Mas à medida que me envolvi no tema percebi algumas semelhanças. Eu comecei a retratar essa questão em outra obra: “Alice in Badland” (ou Alice em Terras inóspitas) ainda em lançamento pela AVEC editora.
Mas, nesse caso específico, eu pensei em levar adiante por serem personagens mais próximos do público, mas é uma questão delicada de se abordar. Apesar de ser um tema interessante, muita gente não aprova a ideia de “heróis indígenas”, taxando isso como cliché. E até mesmo alguns indivíduos indígenas ou apoiadores da causa que não se veem representados pela minha releitura.
Ainda cheguei esboçar a ideia de um quadrinho dentro desse tema, mas no momento está parado.
![](http://www.mulherreal.com/wp-content/uploads/2017/08/Indian-Superman-1-585x804.jpg)
![](http://www.mulherreal.com/wp-content/uploads/2017/08/Indian-Wonder-Woman-1-585x805.jpg)
![](http://www.mulherreal.com/wp-content/uploads/2017/08/Indian-Batman-585x805.jpg)
![](http://www.mulherreal.com/wp-content/uploads/2017/08/India-Supergirl-1-585x805.jpg)