A obesidade na população brasileira é uma preocupação de médicos, governos e redes de assistência a saúde, pois acarreta e/ou agrava vários outros problemas de saúde da população, demandando mais atendimentos e aporte maior de recursos.
A preocupação aumenta porque o desemprego tem se mostrado aliado forte da obesidade caminhando com ela lado a lado, e hoje vivemos no Brasil uma crise econômica sem precedentes: temos 14,2 milhões de desempregados, sendo 13,8% mulheres e 10,7% homens.
A mulher está à frente no desemprego e na obesidade
Recentemente, o relatório “Geração XXL”, publicado pela companhia Ipsos – especializada em identificar as condutas, atitudes e opiniões da sociedade – revelou que as últimas estatísticas mundiais de obesidade põem a mulher no foco da epidemia no século XXI. Isso se explica pelo comportamento feminino à frente da crise: a mulher é mais suscetível a depressões e ansiedade em situações de crise, perdas de emprego e de recursos, afetando a forma como se alimenta.
Especialistas explicam que hormônios como os estrogênios, a progesterona e a testosterona, entre outros, se desestabilizam na crise e influem na forma de sentir tristeza ou alegria e de lidar com a comida.
No caso da serotonina, as mulheres a produzem 52% menos que os homens e este neurotransmissor é grande responsável pelo estado de ânimo, níveis de ansiedade, percepção da dor, sonhos e conduta alimentar. Quando seus níveis diminuem, aumenta a sensação de tristeza e desânimo e aumenta a necessidade de compensação, que geralmente ocorre na alteração do padrão alimentar.
Isso explica porque é tão difícil fazer dietas em tempos de crises sejam elas familiares, profissionais ou financeiras.
Pesquisa americana
Nos Estados Unidos a relação direta entre crise econômica, desemprego e obesidade já é observada. Uma pesquisa do Instituto Gallup revela que os americanos desempregados por um ano ou mais têm mais chances de desenvolver a obesidade do que os que ficam fora do mercado de trabalho por períodos mais curtos. A proporção é de 32,7% para 22,8%, respectivamente.
Ainda de acordo com a pesquisa, os desempregados por seis meses ou mais têm duas vezes mais chances de desenvolver doenças relacionadas à obesidade, como hipertensão, colesterol alto e diabetes, hipertensão e altas taxas de colesterol.
Confirmação do desastre
A psicóloga Gisela Monteiro também já fez essa análise e relação. Ela avalia que a obesidade é uma doença de natureza multifatorial e os aspectos biológicos (genética, hereditariedade), sociais (ambiente, cultura, família) e psicológicos (ansiedade, depressão, impulsividade, transtornos alimentares) se sobrepõem tornando a identificação das causas extremamente complexa. Mas “a crise e o desemprego podem ser fatores agravantes para pessoas com quadro ansioso ou depressivo, ou até mesmo desencadear sintomas associados a esses quadros”, diz.
“Embora se saiba que crise e desemprego não dependem apenas do indivíduo, mas que é principalmente resultante de uma conjuntura econômica, a falta de trabalho remunerado pode interferir sobremaneira na sua autoestima e autoconfiança. Sustentar a si mesma e a sua família é função importantíssima, que quando não se concretiza, enfraquece o papel social de provedora”, analisa a psicóloga.
A psicóloga confirma que o desemprego pode provocar alterações para pior no padrão alimentar. “Ao passar muito mais tempo em casa, aguardando possíveis respostas e convites de emprego, o caminho para a geladeira e a dispensa
tornam-se muito fáceis para a mulher. As pessoas tendem a comer mais em casa do que quando estão fora”, diz.
“Aí se inicia um ciclo que pode se retroalimentar perigosamente. Maior ociosidade, maior preocupação/ansiedade/frustração/raiva, maior consumo alimentar, maior obesidade, menor autoestima, menor autoconfiança, menor disposição para enfrentar o problema”, conclui.
Dicas para evitar e/ou sair da obesidade
Para não entrar nesse rodamoinho perverso, ou até para sair dele, é importante que a mulher disponha dos mais variados recursos com dois objetivos: ocupar o tempo de modo que se sinta útil e que se sinta bem.
Para se sentir útil, a dica é praticar e executar tarefas e atividades que as façam se sentir bem:
- atividades físicas;
- atividades ligadas a um hobby;
- trabalho voluntário;
- prática religiosa.
Essas atividades devem envolver prazer e autocuidado, explica a psicóloga.
- Outra forma de vencer a dupla desemprego/obesidade é usar sua rede de apoio afetiva. Isso significa que, ao contrário do isolamento, é importante buscar amigos e/ou familiares com os quais se possa fazer trocas afetivas de suporte, incentivo e carinho, essenciais nesses momentos difíceis.
Devem ser pessoas honestas na relação que possam, também, dar toques e sugestões para ajudar a superar as dificuldades.