Histórias diferentes que têm em comum a força, garra, coragem para enfrentar medos e desafios e o espírito empreendedor das protagonistas
Colares de pérolas para presentear mulheres com iniciativa e histórias para contar, essa foi uma das marcas da participação de Edna Vasselo no painel Mulheres Inspiradoras, realizado na III Convenção da Rede Mulheres que Decidem, no Teatro Gamaro, em São Paulo, no final de agosto.
A executiva, diretora comercial da Prime – corretora parceira da Aon Holdings – e diretora comercial na ABRH-SP, abriu o painel com uma história surpreendente. Ela contou que superou muitas dificuldades e desafios na sua vida, mas a primeira, que lhe parecia intransponível, foi a diferença estética entre ela e as quatro irmãs, consideradas lindas e por essa razão destinatárias de todo tipo de elogios da família, amigos e conhecidos, moradores da cidade de Torrinha, interior de São Paulo. Uma delas, inclusive, foi miss Torrinha.
Edna, que ostenta hoje muita beleza e elegância, diz que era feia e desinteressante na infância e adolescência. Essa “desqualificação” estética a fez perceber logo que estudar, conhecer, superar e dedicar-se seriam o seu caminho para vencer e, para isso, não lhe faltavam ousadia e coragem. Com 17 anos ingressou na faculdade de biomedicina e saúde pública e esse foi o seu passaporte para a mudança e crescimento.
Saiu da pequena e pacata cidade do interior e veio para a capital, onde tudo era muito diferente do que conhecera – dava medo, mas ao mesmo tempo a estimulava. O que ela trouxe para a maior cidade da América Latina? A cara, a coragem e duas malas – uma de roupa e outra com alimentos.
Sentiu na pele todo tipo de dificuldade: falta de dinheiro, solidão, insegurança, medo de fracassar e de não mais ver sua família (ela prometera a si mesma que só voltaria para a cidade quando tivesse vencido).
Passou por maus bocados por longo tempo e agarrou-se à oportunidade de trabalhar de vendedora numa empresa de seguros. Por ironia ou capricho do destino dessa área não saiu mais. Foi tão bem sucedida que recebeu o prêmio Top Of Mind RH de melhor profissional de vendas por três vezes.
Edna trouxe para as participantes uma mensagem motivacional intensa e deixou bastante claro que para vencer é preciso disposição, destemor, ousadia, espírito empreendedor e constante vigilância para que o ambiente de trabalho seja de crescimento para todos na equipe. É igualmente importante a equidade de gêneros respeito sincero pela pessoa e pelo profissional.
DJ na área
Outra história de arrepiar é a da DJ Tânia Saraiva, que na verdade é booker e proprietária da Tune Music Agency, uma agência de DJs da cena eletrônica. De origem humilde, ela conta que trabalhar era condição de sobrevivência. Foi à luta cedo para ajudar a mãe, que enfrentava três empregos para manter a casa. Tânia queria o reconhecimento de sua mãe e fazia de tudo para tê-lo.
Uma das atividades da mãe de Tânia era a venda de pipocas em frente a uma igreja nas noites. Às sextas–feiras, Tânia ficava no seu lugar. Era adolescente e sentia vergonha de os amigos a virem vendendo pipocas, por isso, sempre mentia quando era convidada para sair.
Logo a jovem conseguiu emprego na agencia Plus Talent Menagement Artist & Agency. Nela trabalhou como booker e conseguiu parte a expertise que ostenta hoje.
Teve problemas na empresa por conta do gênio explosivo do diretor. “Fui demitida mais de uma vez nessa agência. Meu diretor me demitia num dia e no outro me ligava perguntando por que eu não tinha ido trabalhar”, relata. Isso durou algum tempo, mas com a saída definitiva veio a virada – ela fundou a Tune Music Agency. Hoje a empresa tem nome forte, credibilidade no mercado e um casting com excelentes DJs. Recentemente foi procurada pela Plus Talent que quis comprá-la. “Senti uma alegria imensa. Já imaginou o que é você sair da agência onde você trabalhou, que faz o maior festival de música eletrônica (o Tommorrowland), montar a sua própria agência e depois receber uma oferta de compra?”, diz a empresária esfuziante, que não quis negociar a Tune.
Tânia é uma pessoa singular e acessível. Para as participantes do evento ela deixou a mensagem de que sua vida é como a de todas as demais empreendedoras – cada dia é um dia. Segundo ela, há dias em que está muito bem, animada e confiante e outros não tão bons assim, quando bate a insegurança, o receio, os medos. “Mas aprendi que tudo é uma questão de tempo e dedicação”, finaliza.
Cinema no palco
Também compôs o painel Mulheres Inspiradoras a cineasta Laís Bodansky, diretora do filme Como Nossos Pais, vencedor no Festival de Cinema de Gramado como melhor filme. O longa ganhou outros 5 Kikitos, entre eles o de melhor direção. Laís também assina o roteiro do filme, ao lado de Luiz Bolognesi, seu marido. O filme estreou no dia 31 e está em cartaz nos cinemas.
O primeiro longa dirigido por ela foi Bicho de Sete Cabeças. Com ele, ela venceu os festivais de Brasília e do Recife. Depois, com As Melhores Coisas do Mundo, ela conquistou oito os troféus no Cine PE – Festival Audiovisual, entre eles os de melhor filme e melhor diretor.
Filha do cineasta Jorge Bodanzky, diretor de um dos filmes-símbolo do cinema brasileiro: Iracema, Uma Transa Amazônica, Laís diz que sempre quis ser cineasta e tinha como proposta dirigir o seu primeiro longa metragem até os 30 anos, o que conseguiu.
Mas a sua vida no audiovisual não começou no cinema, apesar do DNA. Teve início com gravações de festas e eventos. Nessa empreitada erros e acertos formaram a profissional. E foi num erro grave que Laís percebeu não se ganha trabalhando só, mas em equipe.
O mercado do audiovisual ainda está longe da equidade de gêneros. A segunda edição da pesquisa sobre a “Participação Feminina no Audiovisual na Produção Audiovisual Brasileira”, elaborada pela ANCINE e apresentada no Seminário Internacional Mulheres no Audiovisual, realizado em abril, também pela ANCINE, mostra que a presença feminina na direção de longas metragem é de apenas 15%. Uma realidade que precisa mudar, defende a cineasta.
Confluindo gerações
Também participou do painel a administradora Cecília Maia, diretora na Construtora e Incorporadora Gamaro. Lá ela tem uma missão, promover o debate, diálogo e equilíbrio entre gerações. “É uma empresa familiar e tinha receio de assumir (a administração). Minha tia me chamou e disse que a empresa precisava de mim por eu ser jovem e ter novas idéias e propostas novas, e a empresa estava precisando disso. Aceitei o desafio”, conta.
O painel foi conduzido por Tatyane Luncah, diretora no Grupo Projeto 10 em 1, que reúne agências especializadas para realização de eventos corporativos, ações de marketing promocional, trade marketing, live marketing, gastronomia corporativa, criação, logística e atendimento especializado à outras agências. Tatyane também tem um canal no YouTube chamado Dicas Inspiradoras, e é coautora do livro Dicas de Mulheres Inspiradoras Que Estão no Comando de Sua Carreira.
1 comment
Parabéns, foi como voltar ao dia do evento, fiquei apaixonada pela história dessas quatro bárbaras inspiradoras. MQD