Esse número oscila, mas o fato é que é sempre necessário a maioria, o que a presidente petista Dilma Rousseff já não tem faz tempo. E para infelicidade dela e contrariando todas as suas expectativas não se governa só, e num governo presidencialista o apoio de parlamentares é imprescindível.
A rejeição à Dilma ficou clara nos discursos de desabafo dos deputados na sessão onde votaram a admissibilidade do impeachment. Eles deram sinais muito claros de ansiedade por livrarem-se de Dilma e do PT – estão humilhados e oprimidos por uma presidente e partido que, disseram, são prepotentes, autoritários e arrogantes.
Postura ruim para uma presidente de um país cujo regime é democrático, que, constitucionalmente, precisa do Congresso Nacional e para aprovar seus projetos e promover as reformas que julga necessária.
Essa também é a queixa de movimentos sociais, entidades de classe, sindicatos e sociedade organizada.
Esse sentimento dos parlamentes, grande maioria deles, ressona com a mobilização popular que pede o impeachment – uma parte significativa da sociedade que defende afastamento e prisão de políticos e partidos envolvidos em corrupção, denunciados pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Dilma não foi diretamente citada na operação, mas representa o partido, que segundo a PF, é o mentor dos dois maiores esquemas de corrupção instalados no governo – o mensalão e o petrolão.
O líder histórico PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, investigado por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, foi convidado pela presidente para ocupar ministério da Casa Civil, o mais político ministério do governo, responsável pela articulação política do Planalto com o congresso. A nomeação de Lula foi suspensa por Gilmar Mendes, ministro do STF, em ação apresentada pelo PSDB e PPS.
Os partidos acusam Dilma Rousseff de nomear Lula para evitar a prisão dele, o que seria desvio de finalidade.
Mais um tiro no pé, entre todos os outros que Dilma vem colecionando, porque acirrou ainda mais os ânimos da massa insatisfeita, indignada com a corrupção e desassossegada e insegura com alta de preços, desemprego, e medidas impopulares que Dilma conseguiu aprovar no Congresso, como as MPs 664 e 665, que tiraram direitos dos trabalhadores, aposentados, pensionistas e desempregados, a parcela mais pobre da população, portanto.
Para se ter uma ideia do golpe dado pelo governo, devemos olhar mais de perto essas Medidas Provisórias. A MP 664 altera as regras para pagamento do abono salarial – benefício pago ao trabalhador com carteira assinada com remuneração média de até dois salários mínimos. A medida altera o tempo de trabalho exigido para que o trabalhador tenha direito ao benefício – de um para três meses ininterruptos no ano-base, e o pagamento não é mais integral, passando a ser proporcional ao tempo trabalhado.
A mudança no seguro-desemprego é outro ataque com assinatura do governo Dilma/PT. Antes, o trabalhador podia solicitar o benefício se comprovasse seis meses de trabalho com carteira assinada. Com a alteração, poderá solicitar pela primeira vez após 12 meses de trabalho. Pela segunda vez, a partir de nove meses, e pela terceira vez, com seis meses de trabalho.
As mudanças na previdência social, que empurram os trabalhadores para fundos de previdência privada – os sádicos fundos de pensão, que são investimentos de alto risco, sem nenhuma garantia de retorno e com baixíssima confiabilidade. Prova disso é a quebradeira registrada no último ano – o Petros (Fundo de Previdência da Petrobras) que fechou 2015 com um rombo de R$ 20 bi; e o Postalis (Fundo dos Correios) fechou o exercício com rombo de R$ 5 bi. Nesses dois casos os trabalhadores são convocados a cobrir o déficit. Ou seja, contribuíram, irão pagar mais para cobrir o vermelho nas contas e não sabem se receberão no futuro.
Poderia listar muitas outras medidas de Dilma/PT que tiram direitos trabalhadores. E sempre sob a justificativa de que governo precisa fazer superávit primário para pagamento da uma dívida pública (interna e externa) de mais de R$ 5 trilhões, cujo juros corroem quase 50% do nosso orçamento anual. Uma dívida impagável e que precisa ser auditada, pois é feita contratos sem lastro, de juros sobre juros e sem comprovação de contra-partida (conclusão da CPI da Dívida Pública).
Dessa forma, a presidente se mostrou inapta ao diálogo com os partidos aliados, que eram o seu ponto de apoio, ficando bastante vulnerável à oposição.
Esses dois fatores: descontentamento dos parlamentares e a população nas ruas encheram os deputados de coragem para romper com Dilma e votar pela admissibilidade do impeachment. Agora, ela deve enfrentar uma resistência ainda maior no Senado Federal, onde a oposição é maior e já está definida.